Assisti os dois filmes em seguida e, apesar de serem bons, nenhum deles me tocou muito. E ver um em seguida do outro foi uma delícia, mas atrapalhou um pouco a digerir as ideias e sentimentos de cada um. As impressões se misturaram, só que a partir disso vi que eles têm pontos em comum.
O que mais salta aos olhos (na verdade, aos ouvidos) é a presença constante da bateria. Whiplash é até compreensível: conta a história de um baterista que luta para ser o melhor da banda do conservatório. Agora, em Birdman a trilha sonora é composta basicamente por solos de bateria, o que gera mais suspense e ansiedade nas cenas.
Ambos relatam os bastidores de áreas artísticas que poucos têm acesso, mas muitos se deslumbram: o primeiro se passa no melhor conservatório de música de NY, onde estão os melhores músicos de jazz do país; o segundo mostra os bastidores de uma peça prestes a estrear na Broadway, cujo ator principal e também diretor é um astro dos anos 90 em plena decadência.
Por fim, os dois filmes tratam sobre carreira. Discorrem sobre a paixão de um homem por seu trabalho e sua arte e a forma com que ele lida com críticas, sonhos e fracassos. Ambos parecem perguntar: até onde você vai para conseguir chegar ao topo? O que te destrói e o que te fortalece?
A diferença mais brutal talvez seja a fase em que cada personagem está em sua carreira. O primeiro está no começo, chegando perto do auge e da maior realização que é entrar na cobiçada banda de jazz do conservatório. O segundo, na meia-idade, já esteve em seu auge atuando em um filme de super-herói há 20 anos, e agora busca voltar para o topo fazendo uma peça mais “cabeça”.
A influência das críticas é bastante abordada nos dois longas. O baterista sofre com o maestro ultra exigente, que o humilha publicamente a fim de extrair o melhor do músico – nem que isso custe sangue e machucados nas mãos de tanto tocar. Em Birdman, o personagem de Michael Keaton sofre com os comentários ácidos de um colega de cena, da filha, da ex-mulher, da namorada e de uma importante crítica de teatro – sem contar a voz que ecoa em sua cabeça atormentando-o e desencorajando-o o tempo todo.
Os dois protagonistas ultrapassam o limite da sanidade mental ao tentar alcançar o prestígio e a realização em suas áreas. Ao tentar provar para os outros que são bons e merecem o reconhecimento, acabam passando por cima de si mesmos e revelando o pior lado de cada um.
Terminei os dois filmes exausta de tanta tensão – cada um, à sua maneira, provocou em mim uma angústia e gerou uma ansiedade para saber que fim levariam essas histórias loucas. E tristes também, já que o pior crítico e carrasco que temos somos nós mesmos.